sexta-feira, 5 de junho de 2015

Análise e Crítica | A ORIGEM

Nesta seção haverá spoilers



Como era de se esperar, Christopher Nolan consegue produzir um filme extraordinário - "A Origem", lançado em 2010. Neste filme é tratado de forma muito clara os sonhos. A história mostra personagens que fazem experimentos e testes através de uma máquina que fora inventada para fins militares dos EUA. O que procede são os sonhos compartilhados em que várias pessoas podem participar da sessão, desde que haja um arquiteto. Este é o responsável de "criar" tudo que há no sonho a partir de sua memória e imaginação. Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) aproveita-se disso para roubar informações e até manipular as ações da vítima, sem que ela desconfie. Ele é um especialista em obter segredos através dos sonhos compartilhados. No filme, Cobb diz que não se pode criar um sonho a partir de lembranças, pois se perde a noção de aquilo é um sonho, induzindo ao nosso cérebro que tudo aquilo é real.

No sonho, como voltar para a realidade?

Simplesmente o sujeito precisa morrer. Mas é importante saber que no sonho a pessoa pode sofrer dores, mesmo que saiba de que aquilo não é real.

Explicando a relação de Cobb e Mal



Sim, o nome é Mal mesmo. Ela é a esposa de Cobb. A trama inteira se baseia na relação comovente entre ele e sua mulher.
Explicarei o que acontece com os dois:
Ambos realizaram o tal do sonho compartilhado, porém com uma sessão muito prolongada. Eles ficaram presos no sonho cerca de 50 anos. Calma que o tempo no sonho não coincide com o a da realidade - 5 minutos na vida real equivale a uma hora de sonho. Então é provável que o casal ficou horas ou até dias nesse sonho. O que eles ficavam fazendo nesse sonho? Como em qualquer "sonho" de casal apaixonado, eles escolheram sua própria casa (construíram para ser mais exato), por repetidas vezes, se divertiam e namoravam.
O problema é que Cobb se cansara de ficar preso no sonho. Mas Mal se recusava a voltar para a realidade. Queria continuar. Então ele foi até na parte mais profunda da mente de sua esposa e descobriu um segredo que ela guardava. Um pião. Esse pião é como se fosse o totem dela. Era responsável de avaliar e decidir se no plano onde ela se encontra é realidade ou não. Quando o pião fica parado significa que ela está no mundo real. Se ele gira sem cessar é que ela está sonhando. Cobb deixa-o girando. Sem parar. Na ideia de que eles voltassem para a realidade logo. Feito isso, Mal concordou rapidamente em sair do sonho. Interessante a cena em que eles se matam. Os dois estão deitados na trilha de ferro enquanto um trem aparece rapidamente.
Já os dois de volta para a realidade, a esposa fica louca. Entra em profunda depressão. Fica totalmente alienada às condições impostas a ela. Não dá a mínima para os seus dois queridos filhos que ainda são crianças. Ela acredita que ainda está sonhando. As tentativas de Cobb de convencer ela é dado em vão. Em seguida ela se mata.
A morte de Mal afetou muito Cobb. Fez com que ele deixasse para sempre ela "instalada" no seu subconsciente. Em qualquer sonho que ele ter, ela sempre estará lá, em forma de lembrança. Mas essa lembrança é sempre má. Ou seja ela se torna uma vilã para ele.

"Qual é o parasita mais resistente? Uma bactéria? Um vírus? Não. Uma ideia! Resistente e altamente contagiosa. Uma vez que uma ideia se apodera da mente, é quase impossível erradicá-la. Uma ideia que é totalmente formada e compreendida, permanece"





"Uma ideia é como um vírus. Resistente e altamente contagioso. A menor semente de uma ideia pode crescer para definir ou destruir você. As menores ideias, um simples pensamento que pode mudar tudo."

As duas frases são proferidas por Cobb. Serve como referência ao pião que ele deixou para sempre na cabeça e culminou a mente de sua amada esposa. Logo, tornou-se algo irreversível, que deixou o personagem bastante aflito e com sentimento de culpa

O que significa Inserção?




Segundo o dicionário Dicio, inserção significa: s.f. Interposição; adição de algo numa outra coisa: inserção de cláusulas ao contrato. P.ext. Inclusão de alguém ou de uma classe menos favorecida a: inserção social. 
No filme inserção será a implantação de ideias através dos sonhos. 

Afinal, o pião cai?




No final do filme, quando Dom Cobb consegue o direito de retornar para o seu país e rever seus filhos, ele gira o pião para ver se aquilo é um sonho ou não. Se ainda estiver girando sem parar, é porque tudo aquilo é um sonho. Cobb nem sequer olha para o pião quando o gira.

Há um final aberto nesse filme. Eis os argumentos para que o pião cai:

  • Em nenhum momento do filme Cobb diz que o pião era seu totem. Ele simplesmente fala que o pião era o totem de sua esposa
  • Então qual seria o seu totem? Supõe-se que seja sua aliança. Veja que em toda a vez que ele está sonhando, ele usa a aliança. Na realidade e no final ele não está mais com ela
  • Nosso personagem central quando dialoga com a Ariadne revela que é impossível saber como se chega num sonho. Nós simplesmente estamos lá. Nosso cérebro é tão perfeito nesse aspecto que nem percebemos a origem do sonho. Agora observe que no fim do filme, há sim uma origem. Miles vai buscar Cobb no aeroporto. Logo conclui-se que ele sabe que está acordado por saber como chegou até na sua casa.
  • Se você prestar atenção, verá que as crianças nos sonhos de Dom sempre estão vestidas com a mesma roupa. E elas nunca olham para seu pai. No final elas estão com outras roupas e se dirigem para o seu pai!

  • Na última cena, em que aparece o pião, é possível ouvir o barulho dele caindo. Christopher Nolan admite isso. Também dá para notar que o pião balança um pouco, levando a crer que ele vai cair sim
  • O reverendíssimo ator Michael Caine declarou numa entrevista à BBC que o pião cai no fim. Não se sabe se ele falou brincando ou sério. "Se estou em cena é porque é real, porque nunca estou no sonho. Eu sou o cara que inventou o sonho".¹
Eis o argumentos para que o pião não cai:


  • Numa entrevista concedida à revista Wired, Christopher Nolan afirma que Cobb não é um narrador confiável. Seria Dom Cobb, uma espécie de Dom Casmurro? “O  importante é que Cobb não está olhando para o pião. Ele não se importa”.
  • Há muitas pessoas que acreditam de que tudo o que ocorre no filme é um ato de inserção. Cobb estaria sonhando o tempo todo. Ainda na entrevista citada acima, quando Nolan foi questionado se tudo aquilo era uma inserção, ele disse: “Eu não acho que vou te contar sobre isso”
  • A relação de Cobb e Mal conforme o tempo passa, agrava-se mais ainda. Tudo indica que Miles teve que intervir, realizando a inserção em Cobb, para "curar-se" de Mal. Nos leva a crer que o pião então não vai cair
  • Ariadne pode ser a psicóloga de Cobb, ajudando-o a enfrentar a projeção de sua esposa, que está no subconsciente. Pode-se ver ela no elevador juntamente o Cobb e lá viajam para o nível mais profundo dele, onde estão numa praia e mar. O mar é símbolo do inconsciente na psicologia - Freud dizia que o inconsciente era como o mar, não tinha começo e nem fim. Mais uma ideia para acreditar que o pião nunca iria cair.


Fica aqui a minha opinião: O pião cai. O diretor sabe que ele cai, mas quer deixar o telespectador com dúvida, evitando falar sobre o assunto ou gerando novas ideias. Não vá na onda do Nolan.

Conclusão da Análise
Mais uma vez Christopher Nolan conseguiu fazer um filme excepcional. Ele conseguiu explicar de forma simples e sutil os sonhos. Mesmo que ele tenha colocado no filme muita ficção, pode-se aprender muita conceitos. O longa-metragem vem carregado de uma trilha sonora impecável composta por Hans Zimmer, mestre da trilha sonora. Fica aqui uma dica para o que você ouvir quando terminar de ler esse post. The Time - Hans Zimmer









¹ http://entretenimento.r7.com/cinema/noticias/revelado-o-final-de-a-origem-20101001.html
² = https://100grana.wordpress.com/2010/12/01/christopher-nolan-fala-sobre-o-final-de-a-origem/

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